sábado, 13 de março de 2010

Uso de cruzamentos na produção de carne caprina


Segundo dados do Anualpec (2008), o efetivo de caprinos foi estimado em mais de 7 milhões de cabeças, das quais 90% encontravam-se na região Nordeste. A produção de caprinos também tem despertado interesse em outras regiões do país, notadamente nas regiões Sul e Sudeste, voltadas, principalmente, para o mercado de leite e seus derivados e, mais recentemente, para o mercado de carne.

Com a adoção de cruzamentos é possível utilizar a contribuição da heterose para características de importância econômica, visando atingir níveis ótimos de desempenho, compatíveis com os sistemas avançados de produção, logo na primeira geração.
 
O cruzamento consiste no acasalamento de indivíduos de raças ou grupamentos genéticos distintos e os produtos são conhecidos como mestiços. Os cruzamentos têm sido amplamente aceitos em rebanhos comerciais de várias espécies como um método para explorar a heterose, utilizar a complementaridade, utilizar os efeitos da diversidade genética entre raças e proporcionar flexibilidade aos sistemas de produção.
 
Não existe um tipo de cruzamento absolutamente mais indicado, isto dependerá das condições ambientais a serem oferecidas aos indivíduos e do objetivo que se deseja atingir.
 
No cruzamento para produção de carne, as raças paternas devem apresentar boas características de crescimento e de carcaça e as raças maternas devem ter bom comportamento reprodutivo, boa habilidade materna e ser de tamanho pequeno ou intermediário. Os resultados conhecidos são: crias mais vigorosas e com menor mortalidade, maior velocidade de crescimento e melhor índice de transformação; a carcaça aumenta em rendimento e qualidade devido ao maior peso com menor depósito de gordura, melhorando a proporção carne/osso e as partes nobres na desossa.
 
O cruzamento industrial está se tornando uma prática constante nos sistemas de produção de caprinos de corte, haja vista o elevado preço de animais puros, fato este que impede a entrada de produtores menos capitalizados na atividade. Segundo Cunha et al. (2004), o cruzamento industrial oferece uma alternativa para o aumento da produção de carne caprina de boa qualidade, devido à heterose e por permitir a introdução ou aumento rápido na freqüência de genes favoráveis para ganho de peso e qualidade da carcaça.
 
O aumento da demanda e a carência de carne de boa qualidade disponível no mercado têm elevado o preço do produto e despertado o interesse dos produtores da região Sudeste, forçando o sistema produtivo a melhorar a eficiência e a qualidade da carne ofertada. Dessa forma, os produtores da região Sudeste, tradicionais produtores de leite, têm destinado parte de suas matrizes leiteiras (aproximadamente 60-80%) para serem acasaladas com bodes de raças especializadas na produção de carne, visando à produção de cabritos com melhores características de carcaça e carne para atender o mercado consumidor. O restante do rebanho leiteiro (40-20 %) tem sido acasalado com reprodutores da mesma raça, visando à reposição das fêmeas do rebanho.
 
Uma das alternativas para melhorar a produção caprina no Nordeste é o cruzamento das cabras nativas da região com reprodutores de raças exóticas especializadas para a produção de carne, com o fim de produzir mestiços mais produtivos do que os nativos, proporcionando incremento do negócio da caprinocultura de corte.
 
O cruzamento de caprinos da região com as raças exóticas deve ser feito levando em consideração a produção de um rebanho mestiço - constituído de caprinos sem padrão racial definido (SRD) - que reflete os diferentes graus de mestiçagem entre caprinos nativos com as raças introduzidas. A população nativa SRD é altamente representativa (± 60% do rebanho) e constitui-se em fonte considerável de carne e pele.
 
Os criadores têm utilizado suas matrizes para cruzamento com a raça Boer, por ser esta caracterizada pela produção de carcaças com altos rendimentos e compactas. A boa qualidade das características dos caprinos Boer, como um animal com aptidão especializada para produção de carne faz desta raça a primeira escolha quando se deseja selecionar para rusticidade, potencial de crescimento e qualidade de carcaça (Sousa, 2002). Além disso, os animais possuem excelente conformação, elevados índices de fertilidade e prolificidade, são facilmente adaptáveis às condições ambientais e transmitem aos descendentes suas características, sendo uma boa alternativa para cruzamentos. Entretanto, o maior entrave na utilização desta raça é o preço elevado dos reprodutores, em função ainda da pequena disponibilidade de animais no Brasil. O inconveniente de sua utilização é o elevado preço dos reprodutores e a pequena disponibilidade de animais no mercado.
 
Outra raça que há muito tempo tem sido utilizada no Brasil para a produção de carne é a raça Anglo-nubiana. Considerada uma raça de dupla aptidão, apresenta animais grandes, rústicos e de elevado peso adulto, pele e carne de boa qualidade e com bom ganho de peso diário dos cabritos. Os bodes desta raça podem também, ser uma boa opção de cruzamentos com cabras leiteiras ou mesmo criados puros para a obtenção de reprodutores a preços mais acessíveis do que a raça Boer (Ribeiro, 1997).
 
Resultados obtidos com cruzamentos
Santos et al. (1984), em estudo comparativo do desempenho de caprinos de raça autóctone, com animais especializados para produção de carne, avaliaram o nível de melhoria da produção de plantéis nativos, resultantes de cruzamentos com as raças Anglo- nubiana, ½ Anglo-nubiana e Moxotó, e verificaram os pesos ao abate de machos e fêmeas foram: 20,82 kg e 18,48 kg; 16,36 kg e 15,32 kg; 11,62 kg e 10,12 kg, respectivamente, evidenciando o ganho dos mestiços sobre os animais nativos.
 
Em estudo comparativo realizado por Oliveira et al. (2008), os autores concluíram que cabritos mestiços oriundos do cruzamento de reprodutores das raças Anglo-nubiana e Boer com cabras SRD apresentam carcaças com melhor rendimento e conformação, além de maior precocidade que os cabritos SRD, mostrando ser o cruzamento uma ferramenta eficiente para melhorar a produção de carne desses animais.
 
Sousa et al. (2009), verificaram as características de carcaça de animais ½ Boer + ½ SRD, ½ Anglo-nubiana + ½ SRD mantidos em confinamento. Os mestiços ½ Boer + ½ SRD apresentaram maiores pesos da carcaça quente e fria. O rendimento comercial da carcaça foi semelhante entre os genótipos estudados.
 
Cruzamentos utilizando uma raça exótica leiteira têm sido relatado na literatura nacional. Menezes et al. (2009) estudaram as características de carcaça de cabritos ½ Boer + ½ Pardo Alpino (½ BA) e ¾ Boer + ¼ Pardo Alpino (¾ BA) e não observaram diferença entre o rendimento da carcaça quente, com valores de 46,57% e 47,82% para os ½ BA e ¾ BA, respectivamente. Nesta mesma linha de pesquisa, Rodrigues (2009) observou diferenças para peso vivo ao abate, pesos da carcaça quente e fria entre animais ½ BA e ¾ BA, sendo que os animais ½ BA foram superiores, apresentando valores de 24,64 vs. 19,99 kg, 11,49 vs. 9,28kg e 11,35 vs. 9,18 kg, respectivamente.
 
Todavia, o desejo de obter resultados rápidos na melhoria do material genético existente, tem feito do cruzamento um dos meios mais utilizados, porém de forma indiscriminada e com o perigo de se perder o material genético das raças nativas caso não existam estudos adequados, com planejamento e controle eficientes.
 
Não existe um tipo de cruzamento absolutamente mais indicado, isto dependerá das condições ambientais a serem oferecidas aos indivíduos e do objetivo que se deseja atingir. Sua eficiência dependerá das raças utilizadas, da individualidade dos animais e do nível nutricional dos mesmos.
 
* Luciana Rodrigues - Doutora em Produção Animal pela FMVZ/Unesp-Botucatu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário